domingo, 19 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Epílogo

Como em quase todas as viagens e mais concretamente numa peregrinação há coisas que levámos a mais e outras que devíamos ter levado e não levámos. Assim, aqui deixo uma lista dos items:

- O guarda-chuva. Não choveu, nunca usei nem para tapar o sol. Se fosse hoje levaria um casaco impermeável dentro da mochila.
- A garrafa de água. Nunca usei nem senti necessidade de usar. Em alternativa levaria uma caneca de plástico e prendia com um carabiner à mochila. È mais cómodo beber água das fontes assim do que à mão.
- Um livro. Devia ter levado um de casa. No Caminho tive de comprar um para ocupar o tempo livre nos albergues.
- A almofada e a esteira de campismo. A almofada nunca usei. A esteira usei duas vezes mas podia ter passado sem usar. Quando me sentia cansado e o corpo pedia para me deitar a descansar, a mente ordenava para continuar e chegar ao albergue.
- Um cilindro para guardar a compostela. Agora já tenho um e levarei numa próxima peregrinação.

Em relação à estadia nos albergues portugueses é necessário telefonar a avisar com antecedência, o que consegui fazer em quase todos. A quantidade de peregrinos no Caminho é bastante diminuta. Desde o começo em Viseu até chegar à Via da Prata foi uma caminhada em solitário, tanto no terreno como nos albergues. Creio que isto se deve à sinalização do Caminho ser recente (2013) e muita gente ainda desconhecer esta alternativa ao mais procurado Caminho Central Português.
Em todos os albergues fui muito bem recebido e não tive de esperar mais de 10 min para me virem abrir a porta. Sendo a reconversão dos albergues recente encontrei condições excepcionais. Vezes ouve em que me senti como se num mini-hotel estivesse.
Os serviços nas localidades servem para fazer todas as refeições. Há cafés, mercearias e restaurantes. É só procurá-los.
Fazendo um comparativo com o Caminho Central desde o Porto (a parte que conheço) devo dizer que gostei mais deste. Pareceu-me que tem mais zonas de natureza. No entanto, este é sem dúvida mais difícil, muito devido aos declives do Alto Douro Vinhateiro.
A sinalização está de um modo geral boa. Poucas vezes me perdi e quando aconteceu foi por falta de atenção minha. Na passagem pelas cidades perdi a sinalização quase sempre. Até em Santiago aconteceu. Nestas alturas valeu-me o track no GPS.
Levava a parte portuguesa do caminho bem planeada com notas sobre os albergues e seus contactos, a distância entre eles e a restauração existente, que retirei do site do Caminho do Interior. No entanto, em relação à parte espanhola apenas levava as localidades em que existia albergue. O mapa que a Protección Civil me deu em Laza passou a ser a minha referência. Se fosse hoje levaria de casa a parte da Via da Prata mais planeada. Saber a distância entre albergues é essencial.
Os dois últimos dias para fazer 30km. Olhando agora para trás acho que devia ter feito em apenas 1. Dormiria no Monte do Gozo e apanharia o autocarro das 10H no dia seguinte.
Devia ter planeado melhor o regresso a Portugal. Isto pode traduzir-se num dia a mais ou não em Santiago.
O balanço geral é bastante positivo. Perdi 5 kg mas ganhei uma experiência para a vida. ULTREYA!

O album completo:
Caminho Português do Interior

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - dia 14

Quando comecei este derradeiro dia faltavam apenas 17km para o local onde está a tumba do apóstolo. Começaram a aparecer marcos com a placa indicativa dos kms.


Passei sobre a linha do comboio no local onde aconteceu o trágico acidente que vitimou mais de 1 centena de pessoas. Agora está aqui um memorial.

Memorial às vítimas do acidente de comboio
Os kms iam esgotando-se, estava a aproximar-me a passos largos da cidade e eis que me surge ao longe por cima do casario as torres da catedral. Perdi mais uma vez a sinalização e optei por seguir com a ajuda do GPS.

Catedral ao longe
Foi com alívio e uma grande satisfação que entrei na praça do Obradoiro. Tinha conseguido concluir a peregrinação sem problemas físicos ou outros. Nem uma bolha me surgiu.

 
Tiradas as fotos da praxe nestas ocasiões depois fui à Oficina do Peregrino validar a minha credencial e colocar um último "sello" para obter a desejada compostela.

Credencial do Peregrino

Compostela
Oficina do Peregrino mudou de sítio desde a última vez que lá tinha estado, sendo agora o serviço feito por voluntários. Adquiri um cilindro por 2€ para colocar a credencial. Mais tarde numa loja no exterior encontrei por 0,90€. Numa futura ida a Santiago vai ser um objecto a levar na mochila. 
Junto à oficina existe um balcão da ALSA onde se pode comprar bilhetes e saber horários. Fiquei a saber que havia autocarro para o Porto às 10H, 12H e 17H.
Depois fui à Oficina de Turismo de Santiago de Compostela de onde trouxe um mapa turístico da cidade.
Decidi que ia regressar a Portugal nesse mesmo dia no autocarro das 17H. Até lá ainda visitei alguns monumentos e igrejas da cidade.
Contrariamente ao que tinha planeado não iria passar a noite no albergue do Monte do Gozo.


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - dia 13

Desde a tarde de ontem que ficaram a faltar cerca de 30km para chegar a Santiago de Compostela. Embora pudesse percorrer a distância num dia, decidi dividir esta distância para 2 dias para ter mais tempo para visitar a cidade do apóstolo no 2º dia. Hoje ia ser um dia de semi-folga.
Pelo Caminho existem placas a indicar os serviços de cafés e restaurantes aonde podemos ir. Assim fiz para ir tomar o pequeno-almoço. Foi na taberna "O Seixo" . 

Ponte Ulla
Cheguei ao albergue de Outeiro por volta das 11H onde esperei pelas 13H para a sua abertura. A tarde foi passada a ler o livro que tinha comprado em Lamego. O albergue tinha muito boas condições com uma sala de estar ampla e com sofás confortáveis. Também serve jantares preparados pela alberguista.

Albergue de Outeiro
Neste albergue encontrei um casal de peregrinos portugueses vindos do Porto para fazer o Caminho desde Ourense. 
 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 12

Neste dia andei por terras do concelho de Lalin. O pequeno-almoço foi tomado num café antes de Laxe.


Cheguei ao albergue de Laxe por volta das 12H. Ainda estava fechado pois os albergues só abrem às 13H. Decidi continuar. 
Antes de Silleda fui a uma igreja para carimbar a credencial (havia uma placa a informar isso).


Ainda não sabia onde iria passar a noite e por isso aproveitei para pedir algumas informações ao senhor que estava na igreja. Em Silleda, a 4km, havia 2 albergues turísticos (mais caros que os municipais, a 8€) . E em Bandeira, a 11km havia um municipal. Foi para este último que decidi ir.

Albergue de Bandeira
Cheguei cerca das 17H. Era o primeiro peregrino. Mais tarde veio um grupo de 3 bicigrinos espanhóis (sendo 2 pai e filho) e um peregrino estrangeiro. O albergue era um conjunto de vários contentores pré-fabricados dispostos individualmente, mas nem por isso as condições deixavam de ser excelentes. Foi inaugurado em 2013, por isso estava como novo. A cozinha estava bem equipada. Só faltava mesmo um micro-ondas ou forno. No contentor da cozinha havia um pequeno hall com sofás. O corpo cansado de um peregrino gosta destes mimos.



segunda-feira, 6 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 11

Comecei a caminhar por volta das 6H ainda mal o sol tinha nascido. Talvez por ser Domingo tive dificuldade em encontrar um café aberto para o "desayuno" . Passei a ponte sobre o rio Minho e à saída da cidade houve uma subida de cujo cume se abarcava uma vista sobre toda a cidade e envolvente.

Ourense ao amanhecer
Hoje foi um dia de muita natureza com passagens por zonas de bosque e floresta lindíssimas.


Almocei em Cea no café-bar "O Camiño" . Foi um bocadillo de jamón, o primeiro desde que entrei na Galiza. À saída desta povoação há 2 continuações possíveis, bem assinaladas. Escolhi a que passa pelo mosteiro de Oseira, mais a norte e mais longa que a variante a sul. O Caminho segue por antigas vias Romanas usadas no passado para o comércio do famoso pão de Cea. Existe até uma rota que recria esta tradição.


O colossal mosteiro de Oseira é deslumbrante e domina a pequena aldeia com o seu tamanho. Deambulei pelo seu exterior a visitar o que dava para visitar. Neste mosteiro existe um albergue de peregrinos onde entrei mas onde decidi não ficar pois ainda me sentia capaz de andar mais algumas horas e ir até ao albergue de Castro-Dozón. Não era meu objectivo andar a coleccionar albergues e carimbos mas sim chegar a Santiago.

Mosteiro de Oseira
Entrei num café em Oseira para tomar um pequeno lanche e ganhar forças para o que restava do dia. Olhando para o mapa, o desvio que parecia pequeno veio a revelar-se um osso duro de roer. Os kms pareciam não ter fim e troços ouve que se revelaram bem difíceis, até para um peregrino a pé como eu. Apesar da dureza valeu a pena.


Ao chegar a Castro-Dozón entrei no primeiro café aberto que vi e fui perguntar pelo albergue. Afinal era só continuar a estrada que estava a seguir e 300m depois cheguei ao albergue municipal. Custou-me muito este dia. Acabei de andar às 18H e estava com dores nas pernas e pés.

Albergue de Castro-Dozón
Depois do duche e acomodação voltei ao café onde tinha parado para jantar, novamente um bocadillo.






domingo, 5 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 10

Em Xunqueira de Ambía não encontrei nenhum café aberto para tomar o "desayuno" . Por isso continuei e só o tomei em A Pousa.


Este dia foi curto, 24km apenas. Depois do dia preenchido anterior hoje foi um semi-descanso. Cheguei a Ourense por volta das 12H. Rapidamente perdi o rasto à sinalização (já o esperava). Ia perguntando a pessoas na rua onde ficava o albergue municipal de Ourense. Tinha de continuar a seguir por uma das artérias principais da cidade. Uma rua que parecia não ter fim. Ourense é uma cidade mesmo grande. Ao passar numa casa de take-away resolvi levar o almoço para comer no albergue.

Albergue em Ourense
Era o primeiro peregrino do dia a chegar ao albergue. Depois de me instalar e tomar o duche saí para fazer compras (havia muito por onde escolher) e fui visitar a parte baixa da cidade, onde se situam as principais igrejas e monumentos.

Igreja em Ourense


sábado, 4 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 9

Com outros peregrinos a acordar às 6H é difícil não acordar também. Assim, hoje comecei a jornada às 6H30 e fui tomar o pequeno-almoço n´ "A Souteleira - Sendero del Peregrino" que fica em Soutelo Verde. Ofereci donativo, pois não há pagamento formal.
A seguir a Tamiceles há uma subida longa até aos 950m de altitude, uma verdadeira etapa de montanha.
Em Albergueria estive no famoso Rincón del Peregrino que tem as paredes do seu bar forradas com as vieiras assinadas por peregrinos de todo o mundo. Também eu assinei a minha para um dia quando aqui voltar a  passar me lembrar deste dia.

Rincón del Peregrino
Existe também aqui um albergue particular para quem a subida tiver deixado mossa e quiser ficar por aqui.
Neste dia passei por uma série de rectas de terra batida muito longas por entre as searas.


Depois segui por trilhos de terra nos famosos bosques da Galiza. Foram uma delícia de fazer estes bosques sombrios e frondosos.


Fiquei alojado no albergue de Xunqueira de Ambía. Depois fui ao centro da vila abastecer de produtos para o jantar numa mercearia e fui a uma farmácia comprar pomada para picadas de insectos.



sexta-feira, 3 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 8

Ao oitavo dia ia entrar em Espanha pela Galiza. Rabal foi a primeira localidade espanhola por onde passei.


A ida até Verin é quase 100% feita em asfalto e a sinalização muito escassa. Os marcos de cimento estão vandalizados faltando a placa com os kms para Santiago. Na cidade de Verin perdi a sinalização e tive de recorrer ao track do GPS. Nesta cidade existe um albergue: a Casa do Escudo, que já faz parte da Via da Plata, para quem escolher seguir a variante mais a sul para chegar a Ourense. 

Albergue Casa do Escudo
Não me detive aqui e continuei para norte para ir apanhar o percurso principal da Via da Plata. Da parte da tarde o Caminho foi muitas vezes coincidente com uma rede de percursos de BTT.
Na chegada a Laza segui a placa que indicava o albergue e depois fui recebido pela Protección Civil Espanhola que me fez a inscrição no Centro de Apoio ao Peregrino.


Foi-me entregue um mapa da vila com indicação dos principais serviços e um mapa do Caminho até Santiago com indicação das várias etapas e sua distância, nível de dificuldade e localização de albergues. Recebi também um mapa detalhado da próxima etapa até Vilar de Barrio com a respectiva altimetria. Depois segui para o albergue que ficava noutra parte da vila. Pela primeira vez desde o início do Caminho do Interior via outros peregrinos. Até então tinha sido uma caminhada em solitário. Hoje não ia ser o único ocupante do albergue.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Caminho Português Interior de Santiago - Dia 7

Hoje iria ser o meu último dia por terras portuguesas. De manhã, a seguir à aldeia de Redial passei por extensos pinhais onde andavam a fazer a sangria da resina. Por volta das 11H30 alcanço Chaves.

Chaves à vista
Almocei numa churrasqueira e depois fui à biblioteca municipal para me ligar à net. Passei a ponte sobre o rio Tâmega e depois de passar a A24 segui pelo parque industrial de Chaves, sempre por asfalto.

Rio Tâmega em Chaves
Hoje o dia estava melhor, sem sol e sem calor derivado ao céu se encontrar nublado.
Caminhei até chegar a Vilarelho da Raia, local onde se encontrava o albergue para este dia. Pedi informações a locais para lá chegar. O albergue situava-se numa espécie de sótão da associação local.

Albergue em Vilarelho da Raia
Jantei no bar desta associação que também serve jantar aos peregrinos.



Caminho Português Interior de Santiago - Dia 6

Um duche quente e uma bela noite de descanso num colchão macio em uma casa acolhedora fazem milagres ao peregrino. Quando saí do albergue estava bem melhor do que no dia anterior quando cheguei a Parada de Aguiar. Continuei a andar pela linha do Corgo até chegar a Vila Pouca de Aguiar onde tomei a 1ª refeição do dia numa pastelaria central.
O Caminho do Interior é comum ao traçado da Travessia do Alvão, uma grande rota de cerca de 50km que eu já fiz no passado. Os trilhos eram pois familiares.


Em Pedras Salgadas descansei um pouco à sombra à beira da ribeira e depois arranquei para Sabroso de Aguiar onde procurei por um restaurante para almoçar. Não havia e as alternativas era continuar pelo Caminho e ir até Vidago onde poderia chegar já depois da hora de almoço ou então desenrascar-me num café que havia à beira da N2. Foi isto que fiz e pedi uma sandes de chouriço e a habitual água de 1,5L fresca que o tempo não estava para menos.
Fiz-me novamente ao caminho e na aproximação a Vidago passei pelos campos de golfe à minha esquerda.

Campos de golfe em Vidago
Eram cerca de 14H e resolvi tentar ainda almoçar na vila de Vidago, o que consegui num restaurante/pizaria. Até ao momento foi a melhor refeição. Como se costuma dizer e já que estamos em peregrinação: "Comi que nem um abade!" 
Depois de certificar a minha passagem pelo local com o carimbo do estabelecimento, fui à procura do quartel dos Bombeiros de Vidago, local onde iria passar a noite. Foi fácil de encontrar. Feita a minha inscrição e tomado o duche retemperador fui depois às compras para o jantar a uma mercearia da vila. Uma novidade em relação aos outros locais de pernoita era que aqui tinha acesso a televisão.